domingo, 13 de setembro de 2009

O Poeta

Uma casa pintada com cal branca, olhava através de janelas emolduradas em rodapés azuis, uma linha dourada de planícies. Lá bem adiante, meia dúzia de fardos de palha expostos ao sol e um caminho de onde alguém olhava a casa com a mão direita esticada por cima das sobrancelhas. Ali, dizia-se, vivia um poeta que fez da sua solidão, loucura. Numa noite de tempestade, o vento levou os manuscritos da sua essência, procurou nas estrelas, mas apenas encontrou o consolo de um verso desenhado pelo sorriso de uma criança, escavou a terra seca até que fosse barro conservado pelo suor do pastor, Voou nas asas duma folha de Outuno, até encontrar a chuva de Novembro, mergulhou numa fogueira de escuteiro e nadou num cardume de histórias; Aventuras temporárias representadas por palavras digitais, era assim que o poeta as descrevera, as sentira, na verdade. Estoico pensar que o fez hibernar num transe eterno. A tinta e o pergaminho ainda estavam em cima da escrivaninha quando o poeta se perdeu num caminho que atravessara cada lugar seu. Insano, cego e vazio, assim morreu o poeta.



Texto:Carlos Rodrigues

Camões diz: lol

Tenho reparado desde há algum tempo a esta parte que uma das modas dos criadores/autores se prende com a exploração do mundo sobrenatural. Até aqui tudo bem, embora eu considere que também já é exagerado, ao ponto de se tornar repetitivo, come-se demais e depois quase que se vomita, mas isso não é de todo o mal maior, antes fosse. Há uns dias acabei de ler o romance "A História de Edgar Sawtelle", aclamado por muitos o romance do ano de 2009, escusado será dizer que comecei a explorar a obra com enorme curiosidade, Lendo a sinopse, o que o autor e editora nos prometem é um enredo sério, adulto, coerente, ideia que a meio se desmorona por completo com a aparição de um ser sobrenatural trazido da terra dos mortos sob a forma dos elementos naturais. Ora bem, não fosse a mestria com que o Sr. Wroblewski escreve e descreve a relação humana com os nossos amigos caninos, eu teria desistido de ler a obra.Isto para justificar o quê? Para dizer que hoje em dia os autores criam "mundos" que são verdadeiros becos sem saída: Quando não lhes ocorre uma ideia lógica e verosimil para a continuação (justificação) da narrativa, ora "cá vai disto", e enveredam pelo caminho mais fácil: O do sobrenatural.
Não vamos juntar alhos com bugalhos, O "Senhor dos anéis" do Genial Tolkien é um mundo repleto de Fantasia, é certo, mas o leitor/espectador sabe o que esperar quando gasta as suas poupanças numa obra do género, ou pelo menos deveria saber, os trailers, sinopses e as críticas quando bem feitos ainda servem para alguma coisa. As amostras não precisam, nem devem contar tudo, mas é indispensável que a demonstração apresentada seja fiel ao produto integral . Quando se propõe um argumento credivel, e depois nos é apresentado um conteúdo com espiritos, unicórnios e bichos papões, até o menos céptico dos individuos tem o direito de se sentir enganado. Aquele que não se sente enganado nesta situação é aquele que desfruta dum leque de opções muito reduzido, é o cliente comodista a quem podem servir veneno em vez de àgua que ele nem nota a diferença. É aquele que caminha ao estilo "Zombie" no meio da multidão à procura de carne. É aquele que deixou distinguir o bom do mau, é aquele que segue o caminho desejado por esses "senhores" que defendem a cultura e ao mesmo tempo a espezinham, a humilham, a não-fazem.
Acreditar que Moisés separou as àguas do mar; sim respeita-se, acreditar que nos oceanos existiam as mais estranhas e temiveis criaturas, compreende-se que tivesse acontecido, mas já passou mais de meio milénio; acreditar no pai natal é bestial, mas infelizemente passa. Então para esses "senhores" que procuram as soluções mais facéis, que por vezes até estragam guiões com potencial, tudo para ganhar mais uns tostões, que para nós seriam uns bons milhares, não é demais pedir um pouco de respeito para com aqueles que esperam até ao final do mês para ir ao cinema ou para comprar um livro. Não atirem areia para os olhos dos outros.


Texto: Carlos Rodrigues

sábado, 22 de agosto de 2009

Gajas Nuas a Dançar o Tirolês

Peço desculpa pela minha ausência por estas terras, entretanto lavradas (e muito bem) pelo meu caro amigo Manuel Valente. Fica a promessa que em Setembro vou regressar em grande. Entretanto fiquem com a história completamente absurda de Bubakar. Comentem. Continuação de boa época balnear
Cuidado com a Gripe A e com a euforia benfiquista
Carlos, "Um cozido à portuguesa, a preço da China, no restaurante Indiano" (!!!) E depois fazemos o quê, jogamos uma sueca?



O Zapping de Bubakar


Bubakar sentia-se sozinho, situação drasticamente agravada quando a sua sombra lhe apontou uma pistola à cabeça, lhe roubou dinheiro para ir comprar droga e nunca mais voltou. Tentou denunciar a situação à policia, mas em troca apenas a resposta "sem sombra de dúvida". Olhou para o auscultador do telefone e depois marcou um número constituído por nove digitos. Três segundos depois um telemóvel vibrou em cima da pequena mesa de madeira polida bem no centro da sala. "Quem será?" perguntou-se Bubakar. Viu no monitor "Bubakar Casa" e atendeu "Alô?". Ninguém respondeu, Desligou e sentou-se no sofá a fazer Zapping. "Não está a dar nada de jeito", Bubakar queria ocupar o seu tempo com algo, mas o "Quê?", desesperou. Podia ir urinar mas não tinha vontade, ou comer mas nascera sem boca, ou ler mas nem o seu nome sabia escrever, ou jogar às cartas mas nem ao solitário o baralho queria jogar com ele, tentou tomar uma decisão, mas "O que é uma decisão?" perguntou-se. Correu para o quarto e pegou num dicionário, mas fechou-o antes de o abrir, Não sabia ler, esqueceu-se. A sua mente nunca se conseguia lembrar, esse era o truque para não esquecer. Então voltou para o sofá, fez zapping mais um pouco até que ficou vidrado num canal, Al Jazeera ou lá como "eles" lhe chamavam. Bubakar viu então as coisas mais incriveis, pessoas a voar, a dividirem-se em milhões de partículas, a assarem tipo "porco no espeto", havia até um que atirava aviões de papel contra construções Lego e soprava 2 dinamites enterrados num bolo de aniversário de seguida. Bubakar pagou 10 euros ao seu cérebro para que pudesse pensar por 5 minutos. Pensou "Eu...", e acabaram os créditos. Depois de gastar 3500 euros reformulou toda a ideia "Eu vou atirar-me pela janela". Depois gastou mais 1500 euros para conseguir tomar a decisão e correu para a janela. Mas a única janela da casa de Bubakar era apenas uma versão trial de 30 dias e a verdade é que expirara no dia anterior. Remexeu em todas as gavetas da sua casa à procura do crack da janela. E encontrou, Mas pelos vistos aquilo só funcionava com o Windows original. "Foda-se" exclamou.

(Não Sabia o que significava aquela palavra mas soava-lhe mesmo bem "Foda-se" repetia durante todo o dia, em casa, no trabalho, no supermercado, na igreja. Toda a gente o olhava quando o dizia, Bubakar nunca percebera ao certo porquê, mas desconfiava que era por falar sem boca, e atacava mais uma e outra vez com um orgulho desmesurado "Foda-se" e por vezes acrescentava com o mindinho, o indicador, o polegar bem esticados e o anelar e médio dobrados sobre a a palma da mão "Nigga". Na verdade Bubakar aprendeu todas essas expressões quando ouviu um homem cantar, um homem misterioso a quem chamavam 50 cêntimos.)

Mas voltemos então ao Drama que se viveu no apartamento de Bubakar...

Bubakar Parecia descontrolado. A hipótese de suicídio estava fora de questão. Foi fazer Zapping outra vez...Viu um pouco de "National Geografic" e Roeu o Sofá durante horas, depois "MTV" e imitou um tipo que parecia mais morto do que vivo no meio de duas dúzias de zombies, e por fim "Playboy TV". O coração de Bubakar teria parado de bater se alguma vez tivesse batido, de sentidos arreliados Bubakar levantou-se e procurou nas páginas amarelas informação sobre aqueles seres que ouviu alguém denominar de "Mulheres". Dois Nomes Chamaram-lhe a atenção por cima do seu indicador, pese embora Bubakar não soubesse ler dava um enorme valor à forma estética das palavras. "Maya Astrológa" e "Maya Modelo Profissional", Bubakar Tinha que fazer uma escolha e pela primeira vez o seu instinto percorreu-lhe as estradas dos intestinos e disse-lhe a "Maya Modelo Profissional" cheira-me a titulo de Photoshop. Depois foi à WC e cagou um pequeno JPEG. Inclinou-se sobre a Sanita e apanhou o retrato de uma mulher, onde se podia ler pelo espelho que estava atrás de Bubakar: "Maya". Bubakar segurou o retrato com bastante apreço, depois acariciou cada detalhe do rosto da mulher. Ouviu um som curto, bastante irritante e maquinal. A seguir alguém acrescentou num tom seco "Impossível guardar alterações ao layer 7"...E o nariz da mulher que Bubakar segurava entre os dedos distorceu-se. Bubakar assustou-se quase tanto como o susto se assustou ao vê-lo. Foi então que Bubakar se sentiu como o principezinho, sozinho no universo, numa galáxia habitada por seres inabitados de sentido. Bubakar quis que a sua história tivesse fim, mas o autor deste texto não lhe vai dar esse privilégio. BUBAKAR será um escravo da minha Obra HAHAHA (sorriso diabólico), Asshole (entre dentes)...


Texto: Carlos Rodrigues

sábado, 1 de agosto de 2009

Pensamentos Profundos à Superfície – parte II de uma trilogia de IV

Tenham, por obséquio, a bondade de fechar os olhos e imaginarem comigo… (para quem fechou realmente os olhos vai com certeza ser mais difícil imaginar coisa alguma, mas podem sempre pedir a alguém que leia em voz alta).

Peço-vos para se imaginarem na pele dos pobres “avatares” do jogo de computador “Second Life” que, para quem não sabe, é um jogo que simula a vida real e cada um dos jogadores é representado por um boneco virtual chamado “avatar”.

Pois bem, estou-vos a pedir para se colocarem por instantes na pele do boneco virtual e imaginarem esse mundo como sendo o mundo real com casas, empregos, famílias, lojas, destinos, farmácias, concertos, praias, etc… e pegando na parte dos destinos, imaginem a vossa vida controlada por um “nerd” qualquer sem vida social, seboso e adepto da famigerada comida rápida (ou “fast food”, para compreensão geral) que traça a vossa vida a seu belo prazer sem o vosso conhecimento. Imaginem que acordam um dia com um humor estranho e que entram numa escola pública e desatam aos tiros de caçadeira, ou que saem nus de casa e correm rua abaixo a exigir a libertação da libelinha afegã, sem nunca se aperceberem que estão simplesmente a ser alvo da frustração desse tal “nerd qualquer” pelo facto do seu hambúrguer, recentemente encomendado, servir de habitáculo a uma viscosa e suculenta minhoca, vingando-se em vós apenas como forma de descompressão de energias.

Para aqueles “chicos espertos” que decerto estarão a pensar: “Eu já tinha imaginado isto a acontecer” tenho pois outra proposta. Fechem os olhos e imaginem o deus do mundo virtual, o ser que nunca aparece mas que nós sabemos que está presente. Tenho para mim que esse deus é controlado pelo criador e programador do videojogo, sendo o seu filho herdeiro, o Jesus do jogo, que morreu, ao ser despedido da empresa e ressuscitou 3 dias depois devido à promoção de um novo vice-presidente. Imaginemos também os génios virtuais, como os Picassos e Pessoas e Da Vincis. Eram certamente controlados por “nerds hackers” que se socorriam de “cheats” ou programas maliciosos para se destacarem dos demais.

Musica de fundo em crescendo, ambiente dramático instalado, entra o genérico final e corta! Próxima cena...bem haja!

Texto: Manuel Valente

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Caos

Transcrevendo as palavras do dicionário de língua portuguesa, o racionalismo “é a doutrina que afirma a razão”, a razão “é a faculdade de raciocinar (…) justiça; bom senso…”. Ora se assim é, estas designações dissociam-se do dogmatismo referente à “verdade”( passo a redundância) . Segundo a mesma fonte, a verdade “ é a conformidade entre o pensamento ou a sua expressão e o objecto de pensamento (…) realidade…” faço questão de repetir “REALIDADE”. Brota da minha cabeça um pensamento que me faz questionar até que ponto, nós, seres humanos vivemos na utópica verdade que é nossa, sem que esta seja manifestamente a realidade incontestável, pleonástico pensar que mais me aflige quando verifico que cada sociedade acarreta cânones irrefutáveis segundo a sua própria natureza e ao mesmo tempo tão ridículos à vista de outrem. A adopção de várias ideologias antitéticas, considerando cada uma das quais como “razoável”, consoante a cultura em que se insere, não só é possível, como é frequente, contudo afirmar que todas estas são “verdadeiras”, parece-me absurdo. A fragmentação cultural, numa era marcada pelo fenómeno “Aldeia Global” , é a prova de que o Humano é um ser carente de coerência e auto-estima que faz das “diferenças sociais” uma constante arma de arremesso e auto-destruição. É o “chamado” (falso) racionalismo que nos leva à intolerância e nunca nos faz chegar à verdade, por força da subsistência de padrões vincados nos núcleos sociais e da posição de repulsa desses em relação aos demais. Não quero parecer (nem sou) um defensor anarquista, antes pelo contrário, defendo a imposição de regras de cariz indispensável, mas condeno piamente politicas baseadas em “interesseirismos”, “Anti- Democraticismos” e “Radicalismos”. E é isso que nos separa da realidade – a única verdade, aquela que deveria ser partilhada por cada um de nós, e que nunca existiu. Oxalá a “inventem”.


Texto: Carlos Rodrigues

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Rapariga das Sandálias Brancas


O mar sussurrava palavras de um alfabeto cuja infinidade eu desconheço, quando a vi passar com um longo vestido azul esvoaçante. Os cabelos ondulavam e rebentavam no areal que ela preencheu como se de um elemento expressionista se tratasse. Descalça, calçava um rosto de sonhos, um sorriso omnipotente, enquanto segurava com dedos delicados um par de sandálias brancas. Os seus passos deixaram para trás um caminho de quimeras, que o oceano roubou da minha memória para a transformar em sua. E a rapariga das sandálias brancas desapareceu…A maré desceu, e o mar abalou com ela, mas eu sei que amanhã a trará, e eu vou ter a certeza que ela não é mais uma despretensiosa ilusão.



Texto: Carlos Rodrigues
Foto: Carlos Rodrigues

A rede

Como acontecia em todas as madrugadas rotineiras da sua vida, aquele taxista bocejava de X em X tempo. Tinha recebido um telefonema há pouco mais de 5 minutos para se dirigir ao parque central da cidade. Quando lá chegou, já um homem baixo, mal vestido e de barba mal aparada o esperava no passeio. Para Onde Vai? Inquiriu o taxista, e com uma faca afiada encostada ao pescoço recebeu a resposta “para onde tu não vais”. E o velho motorista encostou o automóvel à berma da estrada onde ficou desapoderado do seu ganha-pão. O assaltante seguia agora a grande velocidade numa avenida central. Abriu o porta-luvas em busca de algo que não conseguiu encontrar. Irado, abriu a janela e voaram para o exterior cassetes, blocos de notas, um santo religioso trabalhado com gesso e um rolo de papel higiénico. Um Mendigo que pernoitava numa caixa de papelão, encostada a um muro grafitado, levantou-se de imediato com uma expressão fundida entre a incredibilidade e o entusiasmo. Junto ao degrau do passeio, o homem vestido de farrapos, sorriu com três dentes antes de apanhar o santo. O sorriso desmaiou quando o pobre homem reparou que o santo não tinha cabeça. Aproximou-se de uma sarjeta que estava a cerca de um metro do local onde havia apanhado o santo, olhou para o fundo do escoadouro e lá estava, a cabeça do boneco. Não tinha como alcançar o objecto, como alternativa atirou o resto do corpo do santo para a sarjeta de forma a ficar o mais junto possível à cabeça. Depois foi buscar a caixa de papelão e deitou-se junto ao degrau do passeio, onde adormeceu a contemplar a figura de gesso. Acordou no dia seguinte com o ruído de uma moeda a tilintar na calçada. Com os olhos ainda meio fechados, colados de remela viu uma bela mulher a afastar-se. A mulher era jovem, esbelta, tinha uma enorme cabeleira ruiva e olhos cinzentos. Dirigia-se apressada para o trabalho, eram quase 9 horas da manhã quando algo a deteve. Uma loja de electrodomésticos por onde ela passava todos os dias nunca lhe vendeu tanta atenção. O empregado acabara de ligar as televisões que pintavam a montra. A mulher apertou os dedos das suas mãos contra a vitrina quando na tela passaram imagens de crianças africanas que morriam por nutrição insuficiente. Ouviu-se um disparo e no mesmo instante a montra que a mulher tinha à sua frente rebentou. Um homem encapuçado empunhava uma arma que apontava desorientado em todas as direcções. As pessoas gritavam e chispavam por toda a avenida. Um miúdo que se dirigia para a escola com uma mochila às costas, deixou cair uma bola de futebol que segurava debaixo do braço. Olhou para trás, olhou para a bola, olhou para o assaltante, olhou para a frente e correu para longe dali com o rosto encharcado em lágrimas. Dez minutos fora do alcance do assaltante, parou ofegante perto de um ringue de futebol, onde ficou fitando os rapazes que ali jogavam futebol. “Posso jog…? Tentou perguntar antes de levar com uma bola que lhe embateu entre os olhos. “O rapaz que está na ala de urgências foi atingido por uma bola de futebol e caiu redondo com a cabeça no chão”, disse um médico enquanto comia um pastel de nata no bar do hospital, “Não recuperará os sentidos” acrescentou, “Arranje-me outro pastel de nata por favor” Pediu com boas maneiras.



Texto: Carlos Rodrigues

segunda-feira, 29 de junho de 2009

"Só Porque"

Só porque é maravilhoso recordar, vivendo mais uma vez, só porque é fantástico estar com pessoas que nos enchem o coração e nos aquecem o espírito, só porque é reconfortante ver velhos amigos cujo sorriso de sinceridade nunca se desvanece, só porque vale a pena ouvir aquela musica mais uma e outra e mais uma vez, só porque cada refrão agita o pensar, só porque há coisas que nunca mudam, só porque eu sou um chato do caraças e mesmo assim há quem me ature, só porque vale a pena ouvir para que os outros nos oiçam, só porque me apetece gritar para o céu enquanto a chuva me encharca, nos encharca…só porque sou um incompreendido compreensívo e um compreendido incompreensivo noutras tantas vezes, só porque apesar de tudo sou um egoísta sentimental, só porque adoro aqueles que me rodeiam sem lhes dizer, e mais ainda aqueles que me rodearam durante tanto tempo e tecem cada teia dos tectos da minha cabeça aluada. “Só porque”, é por esses que eu escrevo e me fazem arrepiar em cada letra do meu escrever, só porque eu sei que eles sabem sem que eu emita o mínimo gesto…Só porque sou, como disse em cima um “egoísta sentimental”, nem por isso uma pedra. Não sou!

E este foi escrito com a tinta do coração...


Texto: Carlos Rodrigues

segunda-feira, 15 de junho de 2009

As verdades sobre Chuck Norris Top 10

Já que andamos numa de "Chuck Norris" que nos merece todo o respeito, resolvi postar aqui as 10 verdades mais caricatas do Ranger do Texas. Ora aqui vai:


10. Chuck Norris contou até o infinito. Duas vezes.

9. Chuck Norris pode Dividir por zero.

8. Chuck Norris não faz flexões, ele empurra a terra para baixo.

7. Chuck Norris venceu o Campeonato Mundial de Poker com um dois de paus e uma carta "Você está livre da cadeia" do Monopoly.

6.Chuck Norris demora 20 minutos para passar uma hora.

5.Chuck Norris não usa relógio. Ele decide que horas são.

4.Quando Bruce Banner se enerva transforma-se em Hulk, Quando Hulk se enerva, transforma-se em Chuck Norris.

3.Chuck Norris não respira, Faz do ar seu prisioneiro.

2.Chuck Norris Espetou uma faca no olho. A faca cegou...

1.Chuck Norris Perdeu a Virgindade antes do pai.


Fonte:http://www.chucknorris.com.br/

Texto: Manuel Valente e Cláudia Silva

Respeito-te muito Chuck Norris Ass. Carlos Rodrigues

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Chuck Norris Vs Marinho Pinto


Era uma vez…no Texas. Dizia-se que por aqueles lados existia um ranger capaz de apagar o sol com uma “escarreta”, derrubar as torres gémeas com um sopro, cagar o grand Canyon em dias de prisão de ventre ou mesmo encontrar a pobre Maddie viva. Era mais um dia rotineiro no dia do heróico homem, pelos menos outra coisa não lhe passaria pela cabeça, quando ouviu alguém bater à porta de sua casa. O eco da porta de aço soou qualquer coisa como “Knockin' On Heaven's Door”, e Chuck Norris espetou uma faca no próprio braço e foi abrir. À porta estava um tipo bem penteadinho, olhando por cima dos óculos com um ar extremamente mal disposto. “Queres um Xarope para a tosse?” Perguntou Chuck Norris. O homem pareceu ignorar a pergunta do ranger. “Ai o c*****o”, Bradou o velho Chuck. “Venho aqui pessoalmente dizer que você é um péssimo profissional, que viola completamente o código deontológico, e que eu teria vergonha de exercer o seu papel da maneira como o faz”, Atacou Marinho Pinto. Naquele Momento o tempo parou, o horizonte olhou Chuck Norris segundos antes de ele voltar a falar: “Quer entrar e tomar um chá?”. Marinho Pinto ficou estarrecido com a calma que os olhos do ranger transpareciam, “este gajo ainda é mais estúpido do que a Manuela Moura Guedes” Pensou “Ok, aceito” respondeu o advogado. Segundos depois Marinho Pinto estava sentado num sofá feito com pele de dinossauro, em frente dum plasma com resolução infinita. Chuck Norris voltou alguns minutos depois de ir preparar o chá e sentou-se dentro dum aquário por onde andavam centenas de escorpiões. “Quer tremoços?” Perguntou tentando ser simpático. “Não, venho aqui para falar de assuntos sérios” e tossiu para intervalar o momento. Depois levou a chávena à boca e ficou com os lábios colados à sua orla. Olhou com fúria Chuck Norris enquanto este perguntou “Quer mais açúcar?”. Depois, o velho texano saiu do aquário de escorpiões com um destes ainda a espernear-se entre os seus lábios e dirigiu-se ao advogado. Pegou-lhe na chávena e enfiou-lha pela goela abaixo, “Está quente não está? …e tem 605 forte. hahaha” E riu-se de forma tão diabólica que a terra deixou de girar, e Marinho Pinto pereceu…
Chuck Norris levou o corpo do homem até às traseiras do seu quintal, onde tinha um cemitério privado. Nas campas podiam ler-se nomes como “Elvis Presley, Bin Laden e Loch Ness Monster”. Com as unhas dos pés escavou o mais que pôde e com um Roundhouse Kick atirou o advogado para a cova. Dada a profundidade da cova, Chuck Norris previu que Marinho Pinto atingisse o solo dentro de 3 anos. Chuck Norris ordenou a Deus que chovessse…e choveu…lavou as unhas e foi para casa ver o telejornal da TVI. “F***-*E, esta gaja tem uma boca que mete medo”, e pela primeira vez na vida tremeu.



Texto: Carlos Rodrigues

Crítica "Doubt"


Doubt baseia-se numa peça do dramaturgo john Patrick Shanley, que lhe valeu o prémio Pulitzer. Ele próprio dirige a adaptação ao cinema da sua obra. O enredo desenrola-se num colégio católico, corre o ano de 1964, um ano depois da morte de J.F. Kennedy. O Padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) tenta acabar com os velhos costumes da instituição, contudo conta com a oposição da Irmã Aloysius (Meryl Streep), de valores severamente marcados. O conflicto agrava-se quando a Irmã James (Amy Adams) conta à irmã Aloysius sobre o comportamento suspeito do Padre Flynn. A partir daí a a irmã Aloysius desnvolve uma busca de provas para comprovar as suas suspeitas sobre a aproximação excessiva do padre a um miúdo negro recém-chegado ao colégio. O enredo começa algo lento, com o objectivo de mostrar ao espectador as diferenças comportamentais das duas personagens centrais, mas depressa nos apercebemos que nenhuma das cenas que vimos nos aparece por acaso, num jogo de simbologias e crenças, que por vezes mais do que mostrar, tem um objectivo claramente crítico sobre a instituição. A intriga é muito bem conseguida, carregada de cenas cativantes em termos emocionais. Meryl Streep tem um papel irrepreensível, começando com uma atitude fria até á explosão emocional que ocorre no final da obra. Philip Seymour Hoffman é a escolha certa para o papel de padre, tanto em termos físicos, como em termos cognitivos, apresentando uma personalidade serena e humana, típica da profissão que representa. O argumento é muito rico e é capaz de estabelecer mudanças de opinião diferentes em cada espectador, e os diálogos apresentam uma carga emotiva muito elevada. As personagens secundárias como Amy Adams e Viola Davis representam papéis preponderantes, com desempenhos de luxo, em que funcionam como expoentes de equilíbrio numa história que parece até meio ter apenas dois extremos de opinião. O filme falha quando deixa o espectador à espera de um final mais conclusivo, contudo o confronto final entre as duas personagens finais deixa o espectador com alguns (poucos) indicativos de como seria o desenlace final. Um bom elenco, com representações poderosas e inesquecíveis, uma fotografia de estilo épico e uma banda sonora melodiosa, não deixam esquecer um final para o qual o director parecia prometer mais. Contudo não deixa de ser um bom filme de relações humanas, uma obra imperdível para o espectador que aprecia um drama polémico.

4/5

Texto: Carlos Rodrigues

Felisberto ao luar

Parte I

Chegou o calor. Pensamentos de alegria percorriam as veias de Felisberto. Não havia nada que ele tanto apreciasse como a brisa que soprava vinda de parte incerta. Lá de longe chegava o som de um bailarico, e Felisberto, como por instinto abanava a cabeça num gesto de satisfação tão gracioso que o guiava através de um olhar penetrante, obsessivo talvez, acompanhando as estrelas. E deitado sobre o chão, ladeado duma árvore velha, de nariz empinado, olhar esticado e sorriso espalmado, não precisava de mais nada, senão de contemplar o brilho da lua que o cegou de Verão.

Parte II

A respiração acelerada de Felisberto formou ondas no seu sangue onde os glóbulos surfavam num mar bravo e quente. Era engraçado constatar como vermelhos e brancos coexistiam em harmonia sem saber para onde iam, sem esquecer porque ali estavam. Só a Maré baixa os faria descansar…

Parte III

Felisberto já havia adormecido. A lua olhava-o fixamente porque sabia que ele tinha medo do escuro. Todas as noites a lua era presença na presença de Felisberto. Passaram algumas horas e a lua acordou o sol “São horas de levantar” disse. E o sol ainda meio adormecido levantou-se por detrás dum vale e iluminou o rosto sonhador de Felisberto. “Acabou o meu turno” disse a lua. E o sol sorriu e despertou Felisberto. O rapaz espreguiçou-se, os surfistas já enfrentavam ondas de sangue, o sol raiava, a lua dormia…Era Verão.


Texto: Carlos Rodrigues

terça-feira, 26 de maio de 2009

O Vento e o Baloiço

Um baloiço desusado levitava
Com a toada serena do poema
Que o vento lhe contava…
Quem outrora ali se tinha sentado
Já o tinha esquecido
E o Pobre foi abandonado
Muitos anos se passaram,
Até que um dia reparou,
O ventou passou…
E sentiu um arrepio
“Que será isto?” pensou
E o vento assobiou
“Não trago estio”
“Quem és tu então?”
Perguntou enquanto baloiçava
“Não sou ilusão”
O vento soprava...
“Percorri Terras e Mares,
Mentiras é tudo o que oiço
Dizem que sou mau conselheiro
Prefiro empurrar um baloiço”


Texto: Carlos Rodrigues

MIlhões de Frames por Segundo

Segundos antes daquilo ter acontecido, eu tinha prometido a mim mesmo que aquilo não aconteceria porque sabia que se acontecesse me poderia acontecer algo que seria causa irreversível daquele acontecimento. Três acontecimentos semelhantes, para não dizer iguais, aconteceram três, Sete e Catorze semanas atrás, numa cronologia de acontecimentos que não foram mais de três: três, sete e catorze semanas anteriores. 21 Dias, 49 Dias e 98 Dias respectivos às gavetas temporais que gostamos de chamar de semanas. Ora se uma gaveta tem a papelada de sete dias, a gaveta do mês alberga quatro subcategorias que aclamamos de semanas. E a gaveta dos séculos alberga décadas, anos, meses enquanto se alberga nos milénios e por ai fora. Com tantas gavetas é normal o arquivo não apresentar melhor organização, pois bem se uma gaveta média de um mês tem 30 papéis, não tem lógica algumas gavetas apresentarem valores superiores ou inferiores, que tenham todas o mesmo. Por essa lógica a ultima vez que eu havia cometido tal crime fora há Três semanas, a penúltima há um mês e 19 dias e a primeira há 3 Meses e Oito Dias, Estes dados não são precisos, mas para isso teríamos que trabalhar com os minutos, segundos, milésimas, que são as porcas e os pequenos parafusos que se encontram em qualquer gaveta. Eu tinha nome, mas nunca o soube de cor, e apenas em raros momentos de memória suprema me reconhecia naquilo que me chamavam, Pelo sim, pelo não, respondia cada vez que ouvia um nome próprio. Depois do que aconteceu, não voltei a lembrar-me do nome, “Ainda bem” Pensei. Sendo assim não tive remorsos, não sabia a minha identidade, mesmo que me culpassem, sentia-me inocente, não perante o mundo, mas perante eu próprio. Mesmo sabendo que jurara que aquilo não aconteceria, ou melhor que não voltaria a acontecer, eu senti-me bem depois de fazer com que acontecesse, porque pela primeira vez desejei mesmo não saber o meu nome.
“…12, 13, 14, 15, 16…” Alguém interrompeu a minha contagem
“Que contas tu Sujeito, as Grades?”
“Não Sr. Policia, Conto os intervalos entre as grades” Respondi


Texto: Carlos Rodrigues

sábado, 16 de maio de 2009

Uma Opinião institiva, extremamente desconexa! Enjoy mes amis portugueses!

É um daqueles dias, em que não sabendo sobre aquilo que me apetece escrever, sei que me apetece escrever…Então sem mais demoras coloco phones nos ouvidos e oiço uma música bem calma de teclas de piano, como quase sempre faço quando escrevo. Não me peçam muito da escrita por hoje, porque apetece-me escrever sem ter de reflectir muito, em bom da verdade reconheço que estou mais atento à musica que oiço do que àquilo que escrevo. O que escreverei em cada palavra seguinte será o que me vem à cabeça em primeira instância. Só ter que corrigir os erros quando o Word os identifica já é uma seca valente. Como os computadores nos controlam, pffff (O pffff não tem erro, meu caro computador, eu quero mesmo escrever pffff, deixa-me em paz ou como soa sempre melhor dizer em língua enrolada “Leave me alone”). Os computadores ou pc´s, vou jogar pelo seguro e escrever “pc´s”, não vá o diabo tece-las e eu ter que me referir à palavra “Computador” mais á frente neste texto. Os computadores ou pc´s, como quiserem, são armas de arremesso informativo, mas mais que isso são sedativos para nos manter sob controlo. Há uns tempos pensava, agora repenso naquilo que o pc corrigiu por mim. Dejá vú, Clichê? Claro que sim, toda a gente sabe que sim, ninguém se preocupa muito, trata-se de um comodismo uniforme em qualquer ser da espécie humana. Falemos um pouco de linguagem universal, mas em escala menor …O acordo ortográfico. Será que o próximo Word o vai reconhecer como tal? É horrível pensar que sim, não é? Muito me importa e a muitos importa, mas que importa aqueles que nada mais fazem senão destruir uma cultura há uns bons séculos atrás. E é a essa linhagem de incompetentes que devemos agradecer aquilo que somos, porque não somos nada, Já tivemos o Mundo, agora não temos uma língua. Fuck Off para todos vós, “Fuck off” porque vou desistir de falar como brasileiros, os bravos, mas pobres servos coloniais. Portugal deixa de ser Portugal, Portugal é mais Brasil do que o Brasil é Portugal…Bem vou acabar o post porque tenho que ir ver a novela da Globo. Bem resta-me pensar que é a Microsoft que está por trás destas mudanças culturais, até deve lhes calhar bem…Um destes dias tiram-nos a cedilhas, depois arruínam-nos os travessões, os circunflexos, os graves, os agudos…E se isto parece música para os teus ouvidos, convém que saibas que estamos a falar de língua, é um facto. Mas é um fato de vestir, ou é um facto respeitante a verosímil? Bem, fica ao teu critério, pensa como quiseres e se te sentires confuso, olha paciência a nossa cultura é mesmo assim, uma miscelânea de ideias desconexas.



Texto: Carlos Rodrigues

quinta-feira, 14 de maio de 2009

X & Y


O sol dourava todo a planície. Eram milhões de palmos de terra que não deixavam a flora ondear. Uma árvore ancestral, um rochedo e um banco de jardim ladeado de um candeeiro de rua manchavam de cor a áurea natura.
Aurora e Antero, estavam sentados no banco de jardim, formavam um casal de adolescentes que pousavam apaixonados para a máquina fotográfica de Artur.
Artur era um fotógrafo cego, naquele instante segurava a sua máquina fotográfica enquanto se ajeitava sobre o rochedo para paronamizar o momento. Infelizmente acabou por se desequilibrar e caiu por detrás do rochedo, embatendo-lhe com enorme pujança. Levou as mãos à nuca sem esboçar qualquer queixa, ergueu-se novamente no rochedo e tirou a fotografia sem que Antero e Aurora tivessem tempo de reacção. O flash encandeou o sol, segundos depois Artur tombou para o lado e morreu…
Antero e Aurora Estavam sentados num banco de jardim ladeado por um candeeiro de rua num largo de uma velha vila. O velho segurava um retrato emoldurado com uma distinta e envernizada madeira, enquanto os dois observavam a imagem que sempre lhes trouxe algumas lágrimas. Aurora e Antero uniram os rostos e mais uma vez choraram juntos sempre com a mesma serenidade, aparentemente indiferente, mas carregada de desmesurado simbolismo intemporal. Duas meias lágrimas criaram uma lágrima que escorreu pelo ponto de união das duas faces e precipitou-se na direcção do chão.
A transparência da lágrima deu lugar a uma tela onde brincavam duas crianças num baloiço.
O momento desvaneceu-se quando a lágrima explodiu na calçada.
…O bombardeamento a Hiroshima e Nagazaki ocorreu no Japão no final da segunda grande guerra…
Antero abanou a cabeça e abriu bem os olhos.
-Achas que o nosso amor pode ser destrutivo? Interpelou Aurora
- De tão forte que é, acho que sim…
E olhou para o céu…
E o céu apareceu reflectido sobre um chão de vidro. Uma menina atentava ao chão. Tinha nascido com uma deficiência na retina que a incapacitava de olhar para cima. Vivia num palácio de cristal com telhas de barro. Via a chuva cair nas paredes do palácio, mas sempre se perguntara a si mesma “Donde vem a chuva?”. E um relâmpago caiu dos céus, iluminou o palácio de cristal e assustou a menina…
Artur vagueava dentro duma caixa de fósforos quando encontrou um enorme diamante. Perplexo de alegria tocou-o, sentiu cada um dos seus vértices e depois gargalhou como um demónio até desprender os maxilares.
Deu três passos atrás e fotografou o diamante. O flash da máquina fotográfica cegou-o por completo e ateou os fósforos. À s apalpadelas conseguiu escapar das labaredas e saiu da caixa de fósforos. Artur sentiu-se enlouquecer, de respiração apressada e ânsia assassina verteu água na caixa.
Chovia Impetuosamente. A menina estava agachada num canto da maior sala do palácio de cristal. Tremia de frio, a representação física do seu medo.
-Que arrepio – exclamou Aurora
- Se consegues ver o céu, não tens motivos para ter arrepios – Argumentou Antero
E Aurora olhou novamente para os céu…As nuvens levitavam de Oeste para Este…
-Que nuvens são estas que não se espelham na velha calçada? Apareceu no pensar da velha mulher.
-Gostava de ter sido fotógrafo – Disparou Antero
E o raciocínio sobre o céu desapareceu da mente da velha.
- Retratar cada momento e mantê-lo contigo para sempre…Congelar o tempo…
- Como lembraríamos o dia da planície se não tivesse sido retratado? Questionou Artur
- Eu adorava as cartas que tu me escrevias em papel desmazelado, apreciava cada elemento da tua caligrafia, os borrões de tinta por causa das tuas mão suadas, cada dobra daquele papel…Eu gostava do envelope como gostava das reticências que tanto insistias em usar na tua escrita. É mais fácil recordar cada palavra que escrevias do que o que dizes quando me telefonas. Não creio que o momento imortal precise de registo, desde que o guardes sempre na tua cabeça. E se não me lembrasse de tudo o que aconteceu na planície, imaginaria como foi…E ficaria tão feliz de qualquer maneira. Aurora respondeu não respondendo, mas cativou o velho mais uma vez.
De olhos arregalados Antero olhou Aurora, poisou o retrato e beijou a mulher como o tinha feito na primeira vez.
Continuava a chover copiosamente no exterior do palácio de Cristal. Sem saber porquê a menina ergueu-se, saiu para a rua e deitou-se na terra de cabeça para o ar. Encharcou-se num ápice, mas que importava…Ela estava a ver o Céu. Mais um relâmpago caiu mas desta vez ela não se assustou. O flash da máquina de Artur não incomodou a menina. Sorrateiramente, O fotógrafo chegara-se perto dela…Tinha esperado alguns anos para a ver no exterior. Naquele instante capturou o frame da sua vida. Levou as mãos aos olhos e depois deitou-se ao lado da menina. A chuva refrescou-lhe a mente e deu-lhe força para gritar bem alto “Voltei a ver”. E o palácio de Cristal caiu…



Continua...


Texto: Carlos Rodrigues

sábado, 2 de maio de 2009

O "Hoje" é igual a tantos "Ontens", e o "Amanhã" Vai ter muitos Dias assim

O sóis que fazem reluzir os telhados são de natureza vasta, tanto como os ventos que arrastam verdes, e num mundo imerso em cidades inumanas, Catapultas de atalhos de sentimentos imersos, políticas de palavras, Culturas sem conceito e hipocrísias divinas, há pedras que não sentindo, sentem tanto como alguns que pensam sentir. E ao fim de contas, aqueles que eu realmente admiro, queixam-se quando são atingidos por uma pedra e fazem a pedra chorar.

Para a Ema

Texto: Carlos Rodrigues

terça-feira, 21 de abril de 2009

Relembrando Génios

Visão Realizada

Sonhei que a mim correndo o gnídeo nume
Vinha coa Morte, co Ciúme ao lado,
E me bradava: Escolhe, desgraçado,
Queres a Morte, ou queres o Ciúme?

Não é pior daquela fouce o gume
Que a ponta dos farpões que tens provado;
Mas o monstro voraz, por mim criado,
Quanto horror há no Inferno em si resume.

Disse; e eu dando um suspiro: Ah, não m'espantes
Coa a vista dessa fúria!... Amor, clemência!
Antes mil mortes, mil infernos antes!

Nisto acordei com dor, com impaciência;
E não vos encontrando, olhos brilhantes,
Vi que era a minha morte a vossa ausência!

Bocage

domingo, 19 de abril de 2009

O Meu Sonho é ser velho!

Comprei bolachas torradas no continente que me custaram 59 cêntimos. Lembrei-me de escrever este post enquanto me aprazia do seu sabor. Ora isto para concluir e argumentar com os caros leitores que os pequenos prazeres da vida não têm que ser necessariamente dispendiosos. Não quero contrariar aquelas afirmações que tantas vezes se ouvem como “O dinheiro não traz felicidade, mas é uma sensação tão parecida". Não o farei porque são ditos verdadeiros que quando negados afundam qualquer argumento com fundamento. Contudo acho que é concordante a ideia de que o dinheiro pode ter o efeito contrário e trazer a tal infelicidade que ninguém deseja, sendo que alguns acabam por tropeçar-lhe. Tamanha infelicidade é mais cavada quando se cava sem se aperceber. Há quem seja infeliz, não se considerando, há quem não o seja se considerando, mas aquele que se considera feliz, sendo-o sem ambicionar é um feliz limitado. Sinceramente não aspiro a ter uma grande casa, um bom carro, se se proporcionar melhor, funciona como complemento à chamada “Felicidade”, mas mais importante é saber que farei aquilo que gosto, que retratarei para sempre aquilo que vivi, que aprenderei muito mais do que sei e que tive ao meu lado pessoas que me fizeram sorrir rir e gargalhar. Ao fim de muitos anos serei um velho chato que tenta ensinar aquilo que me chateou outrora. Mas uma coisa é certa, morrerei com vontade de viver mais. A minha ambição é grande, bem sei, mas lutarei para cumprir esse sonho de Ser Velho. Velhos são os trapos? Hmmm, não…Os trapos não adquirem tamanha “Felicidade”.

Texto: Carlos Rodrigues

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Porra!

Após ler os comentários tecidos ao meu primeiro post e de ter reunido algumas críticas dos milhares de leitores deste blog observei com bastante agrado que desiludi as já de sí baixas expectativas, o que foi um dos meus principais objectivos. Passo a explicar o porquê deste objectivo um tanto ou quanto estranho: o caro leitor, depois de ler o post "Pensamentos Profundos à Superfície...", não esperará com toda a certeza que eu consiga produzir nenhum texto melhor que o anterior porque pensa que não tenho capacidade para tal, nem espera "nada" pior porque as suas expectativas são nulas e depois de ler o texto em questão sabe certamente que não poderá haver nenhum tema pior para se falar. Estou portanto completamente livre de pressão pois a partir daqui só poderei melhorar.

Isto era apenas uma jogada tá(c)tica da minha parte e serviu como ponte de lançamento para então poder maravilhar o fantástico leitor com um novo post surpreendendo-o pela positiva, ao escrever um texto melhor, e pela negativa, falando num tema mais inútil, vazio e vago que o "nada".

Outro dia fui questionado por um amigo meu sobre o significado de uma palavra que eu tinha acabado de proferir ao qual, após muito hesitar, dei a resposta que me pareceu mais plausível para caracterizar a palavra em questão: "Não significa nada" disse eu, "mas ao mesmo tempo significa tudo". Esta ambiguidade presente na frase anterior tem uma razão de ser, já que a palavra "Nhecos" é de difícil definição por ser uma palavra "fantasma" pois não se encontra descrita na Bíblia de todos os portugueses, o dicionário. Podemos portanto dar-lhe o significado que bem nos aprouver, mas eu, e penso que todos nós, usamos a palavra "Nhecos" para caracterizar alguma situação que nos pareça digna de tal designação. Porém esta palavra não pode designar objectos, não podemos olhar para, por exemplo, um candeeiro e chama-lo "Nhecos" porque nesse caso a palavra perde todo o seu sentido, fazendo-nos parecer uns "tonhós" aos olhos de quem nos ouve.

Em suma, a palavra "Nhecos" é usada apenas para designar situações, a(c)ções, acontecimentos, ou apenas para "encher chouriço" quando não sabemos o que dizer a seguir. Faço apenas o apelo para o leitor não desrespeitar esta bela palavra nem a banalizar utilizando-a "por dá cá aquela palha". E lembrem-se: um "nhecos" bem lançado, é um "nhecos" bem usado.

Não me iría sentir bem ao concluir esta minha dissertação sem antes dar outro conselho daqueles sempre tão interessantes e úteis: "Se não encontrares o teu telemóvel dá-lhe um toque, se tiver sem som olha... nhecos!"


Bem Haja.

Texto: Manuel Valente.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Hóstia de Cocaína

Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo, Amen
O Velho Padre acabara de pronunciar tais palavras diante dos seus servos, de Costas viradas para a representação do Seu Deus Crucificado por cima dum grandioso órgão de tubos. Ouviram-se tiros e vários gritos fora da paróquia. O uníssono de espanto depressa deu lugar a uma indiferença por parte da plateia. Mais um ou outro que perdeu a vida lá fora…A ambulância chegaria lá num ápice, meia dúzia de investigações precederiam a autópsia, numas horas o corpo estaria na morgue ali bem perto.
A missa Dominical chegara ao fim. Uma mulher jovem, mas bastante envelhecida acompanhou o padre a uma sala lateral da igreja. A mulher vestia uma saia preta curta e uma camisa justa que seguia a cor dos seus lábios borrados. Tinha três dentes, dois podres e um de ouro. Caminhava transviada atrás do pároco.
“Outra vez bêbeda”, Foi a constatação proferida pelo homem assim que se sentou na poltrona da sua ala particular. O Padre mantinha uma postura elegante e falava serena e sobriamente, virtudes adquiridas ao longo dos muitos anos ao serviço da instituição. A mulher sentou-se numa cadeira que ficava de fronte da janela e olhou para o exterior, fingindo ignorar o Padre. “Abre essa gaveta” apontou o prior para uma escrivaninha que ladeava a prostituta desnorteada. A atenção da mulher pareceu ter sido irritada, e com algum anseio tocou no puxador da gaveta de pinho exemplarmente polida. Os seus olhos arregalaram-se. “Pensei que querias as hóstias para as tuas viúvas”, Atacou a mulher. Dentro de saco de plástico estava um saco que continha cerca de cem gramas de cocaína e um maço de notas preso por um elástico.
O sacerdote levantou-se e cuspiu para cima da rameira, “àgua Benta”, pronunciou enojado e fodeu-a na cadeira durante fartos minutos, depois obrigou-a a beber vinho e a consumir cocaína até que ela desprezasse cada um dos seus sentidos. Pela Madrugada levou-a nos braços, conduziu o seu Mercedes Benz preto até á paragem de autocarro mais próxima, tirou-lhe as chaves de casa da mala e deitou-a sozinha com o seu novo dia.
Bebeu uns tragos de Jack Daniels que acarreava no seu porta-luvas e acelerou o tocar dos sinos de uma noite trágica. Parou em frente a uma pequena, poeirenta, e abandonada casa nos arrabaldes da vila. O dia não tardaria a nascer, mas a madrugada nunca fora tão silenciosa como no instante em que ele rodou a chave na fechadura da porta de madeira velha. Não acendeu as luzes, Entrou na primeira porta que palpou à sua direita. Na cama dormia uma pequena menina loira de olhos cor de avelã. Na cabeceira o candeeiro alumiava o rosto níveo da menina. O padre aproximou-se e passou os seus dedos pela face macia da mocinha. Ela acordou, Olhou para ele e meio ensonada exclamou com carinho “Pai…”, e ele tirou uma arma que escondia debaixo da batina e deu-lhe um tiro na testa. Suspirou e saiu para fora de casa, deixando a porta aberta.
“Sr. Padre, que se passou? Tem a batina manchada de sangue”. O homem nem reparou que o dia havia nascido, algumas pessoas vagueavam já pela rua. “Bom dia. Se não se importar lave-me a batina e apareça um pouco mais cedo na paróquia”, e deu-lha a batina sem que ela pudesse debuxar reacção. Enfiou-se dentro do carro e arrancou na direcção do centro da vila. A mulher Cheirou e inspirou o aroma da batina e nasceu-lhe um sorriso de satisfação na alma.
Alguns minutos depois, o padre estacionava o carro perto da Igreja. Entrou à pressa na cristandade e dirigiu-se à sua ala. “Que se passou aqui?”, perguntou uma freira que o olhou severamente mal o viu. Algumas garrafas de vinho estavam espalhadas pela sala, o saco de plástico com cocaína estava aberto em cima da escrivaninha e as mobílias estavam dispersas pela compartição. O homem voltou a tirar a sua pistola do bolso e estoirou a cabeça à pobre mulher que caiu redonda com o seu terço na mão.
O que se passou a seguir foi doentio. O padre despiu a freira, tirou uma faca de talhante que tinha num armário e cortou cada articulação da mulher. Camuflado de sangue pegou no telemóvel, digitou um número e falou: “Tenho aqui uma encomenda para venderes no mercado, estás interessado?”…Depois fritou as bochechas da freira em azeite e comeu-as, acompanhadas com um bom vinho tinto.
No sino soaram nove badaladas. Faltava uma hora para a missa, a vila já se agitava e a batina não enxugaria a horas.

Texto: Carlos Rodrigues



*Peço desculpa se o texto apresentado feriu susceptibilidades, não foi nem nunca será intenção do Stoned Sheep. Acima de tudo preservamos a liberdade construtiva, isenta de tabús.
Obrigado

Relembrando Génios

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sinfonia

Por ali era evidente a passagem dos anos. A ausência de acção tinha marcado os tempos, contudo um enredo não precisa de atitudes físicas das personagens, basta que o silêncio se instale e oiçamos as melodias das suas existências, nem que sejam meramente figurativas. O piano…Há uns anos atrás, o seu mestre havia lhe dado a conhecer a composição de grandes compositores clássicos: Beethoven, Haydn e Mozart. A partir daí, a acção do homem sobre as suas teclas chegou ao fim. Hoje, não precisava que ninguém o tocasse, o piano vivia feliz. Digital, mas sentida, é a forma mais correcta para descrever a sua felicidade. Aquilo que o homem ensinou e desaprendeu, o piano adquiriu e usou racionalmente de acordo com as suas potencialidades. O piano sonhava com actos teatrais, sorrisos estampados, prados verdes, sem nunca deixar de lado o facto de ser um crítico distinto que sempre aprofundou argumentos. Naquela noite, como acontecia em todas as outras, o piano era a luz do mais cortês dos anfiteatros, representava uma sinfonia para todos os objectos daquele sótão. Nunca mais tocaram nas suas teclas, mas tocaram-lhe o coração para sempre.
A cadeira de madeira era o trapézio favorito do pó que nunca deixara de circular por ali. Lembrava os dias em que era polida pelo mais dedicado dos carpinteiros e as noites em que as pessoas ingratas se serviram de si como repouso. Não era difícil deixar de constatar tais memórias, mas a cadeira sempre renunciou ao esquecimento do seu passado.
A janela fechada, já assistira à hipocrisia das calçadas e dos céus. Agora que era "cega", pressentia um mundo com dificuldade em explorar o mais finito dos horizontes. Há milhares de sóis atrás, a janela contava á cadeira e ao piano, aquilo que via, sem querer ver. Estava mais atenta agora que “iluminava” um sótão, do que quando era vitima do encandeamento das sociedades. O piano, a cadeira e a janela apreciavam cada nota de um scherzo. Existiam, Competentes como sempre e sonhadores como nunca. Até o ranger das tábuas velhas lhes trazia tranquilidade…

Texto: Carlos Rodrigues

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pensamentos profundos à superfície...

A pressão de não defraudar as mais altas expectativas ao escrever o meu primeiro "post" neste grandioso BLOG recaiu sobre os meus ombros como um elefante às cavalitas de uma minhoca e, como tal, sucumbi à pressão e acabei por ter um esgotamento nervoso que me deixou num vazio de ideias nunca antes sentido pela minha humilde pessoa.

Pensei, pensei, pensei... mas como não sou muito dado a grandes pensamentos passado 5 minutos estava de volta ao meu jogo de Pro Evolution Soccer (que perdi, dado o grande stress em que me encontrava).

Pois bem, como tinha que mostrar serviço (como é natural nos recém chegados) aqui estou eu a escrever estas linhas sobre o tema sobre o qual tanto pensei: o "nada".
Ora bem, "nada" significa, segundo a 6ª Edição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, pág.1147, "ausência de quantidade; ausência, quer absoluta, quer relativa, de ser ou de realidade; o que não existe; o que se opõe ao ser[...]". O "nada" é portanto.... "NADA", quer linguística, quer fisicamente falando. Podemos então concluir que o "nada" não existe, pois remete-nos para um vazio incondicional de "tudo"!

Complicado? Nem por isso...

Passo a explicar: o "nada" pressupõe ausência total de qualquer matéria sólida, líquida, gasosa e escura, campos magnéticos, luz, radiações, e até mesmo ausência de espaço, isto é, ausência de um lugar vazio onde pudesse caber algo. O conceito do "nada" inclui também a inexistência de todas as leis físicas. Por conseguinte, ao dizermos "não está ali nada" estamos a usar simbolicamente a palavra "nada", já que existe ali sempre alguma coisa, nem que seja luz, gravidade, partículas microscópicas, etc. Usamos portanto a palavra "nada" erroneamente sem que nos consigamos aperceber disso, enquanto que o advérbio "não" que antecede sempre a palavra em questão coloca uma dupla negativa na frase, visto que "nada" já implica uma negação de tudo.

Sem mais delongas na minha divagação por esta palavra vaga e vazia quero-me apenas despedir com um conselho, e peço que o considerem como um conselho de amigo: se ficarem presos no elevador carreguem no stop e de seguida no andar para onde pretendem ir, mas não se aflijam que é normal ele ir ate ao último andar e voltar. Se não resultar sentem-se.

Bem Haja


Texto: Manuel Valente

Foto*: "Nada"

*(nota do autor) Era minha intenção ilustrar este texto com uma imagem do "nada" mas como não sabia qual a cor do conceito em questão optei pelo mais simples, não pôr nada. Ops! cometi o erro que critiquei em cima... oh... que se lixe!

Relembrando Génios

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão -- e nada mais!


Antero de Quental

O Pasto que não precisa de cercas, Liberdade Construtiva

Caros leitores, como já devem ter reparado a stoned sheep está diferente, isto porque o nosso intuito é fazer com que vós, fiéis pastores de rebanhos tresloucados aprecieis cada vez mais o nosso trabalho. Neste sentido chegou a hora de vos apresentar o novo membro do nosso verdejante pasto. Manuel Valente, nome inconfundível do Star System internacional, chega até nós, representando um enorme acréscimo às nossas perspectivas visionárias. Foi um casting em que recebemos gente dos mais variados quadrantes sociais e artísticos, mas no fim apenas Manuel Valente se mostrou à altura do desafio, contando 13 milhões de carneirinhos antes de cair num sono profundo.

Bem Vindo Manuel Valente

domingo, 5 de abril de 2009

Avião de Fogo, uma Dissertação sobre o Tempo


Sentado numa poltrona em Marte, olhando por uma janela suspensa no vazio, por onde só eu podia olhar, mirava o universo. Objectos físicos não via nenhum, mas sentia o coração palpitar. Que importava o resto? Estava vivo…

Com areia vermelha fiz um avião de papel, o meu avião de fogo. Olhei-o com uma atenção mestiça de orgulho e saudade antecedente e atirei-o pela janela. Vi-o a afastar-se e lembrei-me dos dias em que atirava pedras no rio, de como era fantástico ver o seu ricochetear. Eram segundos de felicidade extrema que contrastavam com o instante em que a pedra se afundava e se misturava com tantas outras.

Não sabia se iria reaver o meu avião de fogo, mas sei que ele se lembraria de mim, fosse qual fosse o seu destino. Imaginei o meu avião perfurando o sol de cicatrizes de intemporalidade infinita, e isso fez-me antever um universo muito melhor. O velho sábio precisou de encontrar rivais à sua altura para aperfeiçoar a sua técnica….

E lembrei-me novamente das pedras que atirei ao rio…Uma delas foi suficiente para mover a maior das rochas que empatava a corrente.

Mais tarde, o meu avião de fogo foi pioneiro para a criação de aviões de Ar, de água, de ouro…Todos penetrariam o sol, todos fortaleceriam a velha estrela. Dia após dia o universo tornou-se mais claro.

Recordei pela terceira vez as tardes no rio, movendo rochas. Não era apenas eu, éramos muitos fazendo o mesmo, Cada qual no seu rio. E os oceanos encheram…

E foi então que o meu avião de fogo desceu dos Céus a grande velocidade na direcção de um dos grandes oceanos…Caiu, Originou um enorme Tsunami que matou milhões de pessoas, “Oops, Um pequeno erro de cálculo” pensei…

Milhões de outros aviões caíram até destruir toda a terra, todas as pessoas do planeta desapareceram, e eu fiquei sem puder pedir desculpa a um que fosse…

Adormeci, sem pensar no efeito catastrófico que o meu avião de fogo tinha causado. Nessa noite sonhei que tirava todas as pedras dos rios.

Esperam que fale sobre o tempo? Hmmm, o avião de fogo é a minha representação do tempo, do tempo que vós passais a ler o que escrevo, do tempo em que eu com todo o gosto escrevo para vós. Um grande Obrigado a todos os que partilham o nosso tempo, e especialmente àqueles que o conjugam com meu espaço, “preciso-vos.”

E o avião de fogo não caiu, Sabe o Diabo por onde ele voa.



Texto: Carlos Rodrigues

Foto: Carlos Rodrigues


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Homem que deixou de se sentir - O "Ser" Padrão


Deambulavam, por aquele sonho, os seus pés. Não se sentia bem mas mal também não, e nada fazia prever o que estaria para acontecer. Raízes amordaçaram as suas pernas, num imediato supremo sentiu uma dor incontrolável e atirou um grito que cortou o passeio em paralelos simétricos. Levou as mãos à cara e afundou-se num remoinho de quadrados movediços. Depois?! Bem depois caiu numa sala branca onde nem a sua sombra existia. Ouvia a respiração de outro que afinal era a sua, num raio de acção tão grande que era impossível de medir. Escorregou pelo suor abaixo e as veias do seu pescoço formaram ramos de árvores velhas. Quis falar, mas não conseguiu...Quis mexer-se, não conseguiu…Sentia-se amarrado num cubo de Rubik sem cores. Foi então que ele ouviu várias respirações ofegantes, que afinal eram dele sem que ele se apercebesse. E então observou alguém que se aproximava. Era ele, um sósia quem sabe “pensou”, contudo foi a última coisa que pensou. Sentiu as suas capacidades cognitivas caírem agarradas a um parapente que se despenhou no vazio. Esticou os braços no único movimento que conseguiu soltar. Tocou-lhe, toucou-se. Era metal frio. Chorou alto e sentiu-se perdido. Por cada lágrima derramada um novo “ele” nasceu. Eram todos iguais, e ele deixou de saber quem era e passou a ser apenas mais uma pedra numa calçada de tantas outras. Não se sentia. Berrou tão alto, com tanto sofrer que a sua cabeça estoirou, e os seus miolos formaram um fogo de artificio que caiu num vasto mar vermelho.



Texto: Carlos Rodrigues