terça-feira, 21 de abril de 2009

Relembrando Génios

Visão Realizada

Sonhei que a mim correndo o gnídeo nume
Vinha coa Morte, co Ciúme ao lado,
E me bradava: Escolhe, desgraçado,
Queres a Morte, ou queres o Ciúme?

Não é pior daquela fouce o gume
Que a ponta dos farpões que tens provado;
Mas o monstro voraz, por mim criado,
Quanto horror há no Inferno em si resume.

Disse; e eu dando um suspiro: Ah, não m'espantes
Coa a vista dessa fúria!... Amor, clemência!
Antes mil mortes, mil infernos antes!

Nisto acordei com dor, com impaciência;
E não vos encontrando, olhos brilhantes,
Vi que era a minha morte a vossa ausência!

Bocage

domingo, 19 de abril de 2009

O Meu Sonho é ser velho!

Comprei bolachas torradas no continente que me custaram 59 cêntimos. Lembrei-me de escrever este post enquanto me aprazia do seu sabor. Ora isto para concluir e argumentar com os caros leitores que os pequenos prazeres da vida não têm que ser necessariamente dispendiosos. Não quero contrariar aquelas afirmações que tantas vezes se ouvem como “O dinheiro não traz felicidade, mas é uma sensação tão parecida". Não o farei porque são ditos verdadeiros que quando negados afundam qualquer argumento com fundamento. Contudo acho que é concordante a ideia de que o dinheiro pode ter o efeito contrário e trazer a tal infelicidade que ninguém deseja, sendo que alguns acabam por tropeçar-lhe. Tamanha infelicidade é mais cavada quando se cava sem se aperceber. Há quem seja infeliz, não se considerando, há quem não o seja se considerando, mas aquele que se considera feliz, sendo-o sem ambicionar é um feliz limitado. Sinceramente não aspiro a ter uma grande casa, um bom carro, se se proporcionar melhor, funciona como complemento à chamada “Felicidade”, mas mais importante é saber que farei aquilo que gosto, que retratarei para sempre aquilo que vivi, que aprenderei muito mais do que sei e que tive ao meu lado pessoas que me fizeram sorrir rir e gargalhar. Ao fim de muitos anos serei um velho chato que tenta ensinar aquilo que me chateou outrora. Mas uma coisa é certa, morrerei com vontade de viver mais. A minha ambição é grande, bem sei, mas lutarei para cumprir esse sonho de Ser Velho. Velhos são os trapos? Hmmm, não…Os trapos não adquirem tamanha “Felicidade”.

Texto: Carlos Rodrigues

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Porra!

Após ler os comentários tecidos ao meu primeiro post e de ter reunido algumas críticas dos milhares de leitores deste blog observei com bastante agrado que desiludi as já de sí baixas expectativas, o que foi um dos meus principais objectivos. Passo a explicar o porquê deste objectivo um tanto ou quanto estranho: o caro leitor, depois de ler o post "Pensamentos Profundos à Superfície...", não esperará com toda a certeza que eu consiga produzir nenhum texto melhor que o anterior porque pensa que não tenho capacidade para tal, nem espera "nada" pior porque as suas expectativas são nulas e depois de ler o texto em questão sabe certamente que não poderá haver nenhum tema pior para se falar. Estou portanto completamente livre de pressão pois a partir daqui só poderei melhorar.

Isto era apenas uma jogada tá(c)tica da minha parte e serviu como ponte de lançamento para então poder maravilhar o fantástico leitor com um novo post surpreendendo-o pela positiva, ao escrever um texto melhor, e pela negativa, falando num tema mais inútil, vazio e vago que o "nada".

Outro dia fui questionado por um amigo meu sobre o significado de uma palavra que eu tinha acabado de proferir ao qual, após muito hesitar, dei a resposta que me pareceu mais plausível para caracterizar a palavra em questão: "Não significa nada" disse eu, "mas ao mesmo tempo significa tudo". Esta ambiguidade presente na frase anterior tem uma razão de ser, já que a palavra "Nhecos" é de difícil definição por ser uma palavra "fantasma" pois não se encontra descrita na Bíblia de todos os portugueses, o dicionário. Podemos portanto dar-lhe o significado que bem nos aprouver, mas eu, e penso que todos nós, usamos a palavra "Nhecos" para caracterizar alguma situação que nos pareça digna de tal designação. Porém esta palavra não pode designar objectos, não podemos olhar para, por exemplo, um candeeiro e chama-lo "Nhecos" porque nesse caso a palavra perde todo o seu sentido, fazendo-nos parecer uns "tonhós" aos olhos de quem nos ouve.

Em suma, a palavra "Nhecos" é usada apenas para designar situações, a(c)ções, acontecimentos, ou apenas para "encher chouriço" quando não sabemos o que dizer a seguir. Faço apenas o apelo para o leitor não desrespeitar esta bela palavra nem a banalizar utilizando-a "por dá cá aquela palha". E lembrem-se: um "nhecos" bem lançado, é um "nhecos" bem usado.

Não me iría sentir bem ao concluir esta minha dissertação sem antes dar outro conselho daqueles sempre tão interessantes e úteis: "Se não encontrares o teu telemóvel dá-lhe um toque, se tiver sem som olha... nhecos!"


Bem Haja.

Texto: Manuel Valente.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Hóstia de Cocaína

Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo, Amen
O Velho Padre acabara de pronunciar tais palavras diante dos seus servos, de Costas viradas para a representação do Seu Deus Crucificado por cima dum grandioso órgão de tubos. Ouviram-se tiros e vários gritos fora da paróquia. O uníssono de espanto depressa deu lugar a uma indiferença por parte da plateia. Mais um ou outro que perdeu a vida lá fora…A ambulância chegaria lá num ápice, meia dúzia de investigações precederiam a autópsia, numas horas o corpo estaria na morgue ali bem perto.
A missa Dominical chegara ao fim. Uma mulher jovem, mas bastante envelhecida acompanhou o padre a uma sala lateral da igreja. A mulher vestia uma saia preta curta e uma camisa justa que seguia a cor dos seus lábios borrados. Tinha três dentes, dois podres e um de ouro. Caminhava transviada atrás do pároco.
“Outra vez bêbeda”, Foi a constatação proferida pelo homem assim que se sentou na poltrona da sua ala particular. O Padre mantinha uma postura elegante e falava serena e sobriamente, virtudes adquiridas ao longo dos muitos anos ao serviço da instituição. A mulher sentou-se numa cadeira que ficava de fronte da janela e olhou para o exterior, fingindo ignorar o Padre. “Abre essa gaveta” apontou o prior para uma escrivaninha que ladeava a prostituta desnorteada. A atenção da mulher pareceu ter sido irritada, e com algum anseio tocou no puxador da gaveta de pinho exemplarmente polida. Os seus olhos arregalaram-se. “Pensei que querias as hóstias para as tuas viúvas”, Atacou a mulher. Dentro de saco de plástico estava um saco que continha cerca de cem gramas de cocaína e um maço de notas preso por um elástico.
O sacerdote levantou-se e cuspiu para cima da rameira, “àgua Benta”, pronunciou enojado e fodeu-a na cadeira durante fartos minutos, depois obrigou-a a beber vinho e a consumir cocaína até que ela desprezasse cada um dos seus sentidos. Pela Madrugada levou-a nos braços, conduziu o seu Mercedes Benz preto até á paragem de autocarro mais próxima, tirou-lhe as chaves de casa da mala e deitou-a sozinha com o seu novo dia.
Bebeu uns tragos de Jack Daniels que acarreava no seu porta-luvas e acelerou o tocar dos sinos de uma noite trágica. Parou em frente a uma pequena, poeirenta, e abandonada casa nos arrabaldes da vila. O dia não tardaria a nascer, mas a madrugada nunca fora tão silenciosa como no instante em que ele rodou a chave na fechadura da porta de madeira velha. Não acendeu as luzes, Entrou na primeira porta que palpou à sua direita. Na cama dormia uma pequena menina loira de olhos cor de avelã. Na cabeceira o candeeiro alumiava o rosto níveo da menina. O padre aproximou-se e passou os seus dedos pela face macia da mocinha. Ela acordou, Olhou para ele e meio ensonada exclamou com carinho “Pai…”, e ele tirou uma arma que escondia debaixo da batina e deu-lhe um tiro na testa. Suspirou e saiu para fora de casa, deixando a porta aberta.
“Sr. Padre, que se passou? Tem a batina manchada de sangue”. O homem nem reparou que o dia havia nascido, algumas pessoas vagueavam já pela rua. “Bom dia. Se não se importar lave-me a batina e apareça um pouco mais cedo na paróquia”, e deu-lha a batina sem que ela pudesse debuxar reacção. Enfiou-se dentro do carro e arrancou na direcção do centro da vila. A mulher Cheirou e inspirou o aroma da batina e nasceu-lhe um sorriso de satisfação na alma.
Alguns minutos depois, o padre estacionava o carro perto da Igreja. Entrou à pressa na cristandade e dirigiu-se à sua ala. “Que se passou aqui?”, perguntou uma freira que o olhou severamente mal o viu. Algumas garrafas de vinho estavam espalhadas pela sala, o saco de plástico com cocaína estava aberto em cima da escrivaninha e as mobílias estavam dispersas pela compartição. O homem voltou a tirar a sua pistola do bolso e estoirou a cabeça à pobre mulher que caiu redonda com o seu terço na mão.
O que se passou a seguir foi doentio. O padre despiu a freira, tirou uma faca de talhante que tinha num armário e cortou cada articulação da mulher. Camuflado de sangue pegou no telemóvel, digitou um número e falou: “Tenho aqui uma encomenda para venderes no mercado, estás interessado?”…Depois fritou as bochechas da freira em azeite e comeu-as, acompanhadas com um bom vinho tinto.
No sino soaram nove badaladas. Faltava uma hora para a missa, a vila já se agitava e a batina não enxugaria a horas.

Texto: Carlos Rodrigues



*Peço desculpa se o texto apresentado feriu susceptibilidades, não foi nem nunca será intenção do Stoned Sheep. Acima de tudo preservamos a liberdade construtiva, isenta de tabús.
Obrigado

Relembrando Génios

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sinfonia

Por ali era evidente a passagem dos anos. A ausência de acção tinha marcado os tempos, contudo um enredo não precisa de atitudes físicas das personagens, basta que o silêncio se instale e oiçamos as melodias das suas existências, nem que sejam meramente figurativas. O piano…Há uns anos atrás, o seu mestre havia lhe dado a conhecer a composição de grandes compositores clássicos: Beethoven, Haydn e Mozart. A partir daí, a acção do homem sobre as suas teclas chegou ao fim. Hoje, não precisava que ninguém o tocasse, o piano vivia feliz. Digital, mas sentida, é a forma mais correcta para descrever a sua felicidade. Aquilo que o homem ensinou e desaprendeu, o piano adquiriu e usou racionalmente de acordo com as suas potencialidades. O piano sonhava com actos teatrais, sorrisos estampados, prados verdes, sem nunca deixar de lado o facto de ser um crítico distinto que sempre aprofundou argumentos. Naquela noite, como acontecia em todas as outras, o piano era a luz do mais cortês dos anfiteatros, representava uma sinfonia para todos os objectos daquele sótão. Nunca mais tocaram nas suas teclas, mas tocaram-lhe o coração para sempre.
A cadeira de madeira era o trapézio favorito do pó que nunca deixara de circular por ali. Lembrava os dias em que era polida pelo mais dedicado dos carpinteiros e as noites em que as pessoas ingratas se serviram de si como repouso. Não era difícil deixar de constatar tais memórias, mas a cadeira sempre renunciou ao esquecimento do seu passado.
A janela fechada, já assistira à hipocrisia das calçadas e dos céus. Agora que era "cega", pressentia um mundo com dificuldade em explorar o mais finito dos horizontes. Há milhares de sóis atrás, a janela contava á cadeira e ao piano, aquilo que via, sem querer ver. Estava mais atenta agora que “iluminava” um sótão, do que quando era vitima do encandeamento das sociedades. O piano, a cadeira e a janela apreciavam cada nota de um scherzo. Existiam, Competentes como sempre e sonhadores como nunca. Até o ranger das tábuas velhas lhes trazia tranquilidade…

Texto: Carlos Rodrigues

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pensamentos profundos à superfície...

A pressão de não defraudar as mais altas expectativas ao escrever o meu primeiro "post" neste grandioso BLOG recaiu sobre os meus ombros como um elefante às cavalitas de uma minhoca e, como tal, sucumbi à pressão e acabei por ter um esgotamento nervoso que me deixou num vazio de ideias nunca antes sentido pela minha humilde pessoa.

Pensei, pensei, pensei... mas como não sou muito dado a grandes pensamentos passado 5 minutos estava de volta ao meu jogo de Pro Evolution Soccer (que perdi, dado o grande stress em que me encontrava).

Pois bem, como tinha que mostrar serviço (como é natural nos recém chegados) aqui estou eu a escrever estas linhas sobre o tema sobre o qual tanto pensei: o "nada".
Ora bem, "nada" significa, segundo a 6ª Edição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, pág.1147, "ausência de quantidade; ausência, quer absoluta, quer relativa, de ser ou de realidade; o que não existe; o que se opõe ao ser[...]". O "nada" é portanto.... "NADA", quer linguística, quer fisicamente falando. Podemos então concluir que o "nada" não existe, pois remete-nos para um vazio incondicional de "tudo"!

Complicado? Nem por isso...

Passo a explicar: o "nada" pressupõe ausência total de qualquer matéria sólida, líquida, gasosa e escura, campos magnéticos, luz, radiações, e até mesmo ausência de espaço, isto é, ausência de um lugar vazio onde pudesse caber algo. O conceito do "nada" inclui também a inexistência de todas as leis físicas. Por conseguinte, ao dizermos "não está ali nada" estamos a usar simbolicamente a palavra "nada", já que existe ali sempre alguma coisa, nem que seja luz, gravidade, partículas microscópicas, etc. Usamos portanto a palavra "nada" erroneamente sem que nos consigamos aperceber disso, enquanto que o advérbio "não" que antecede sempre a palavra em questão coloca uma dupla negativa na frase, visto que "nada" já implica uma negação de tudo.

Sem mais delongas na minha divagação por esta palavra vaga e vazia quero-me apenas despedir com um conselho, e peço que o considerem como um conselho de amigo: se ficarem presos no elevador carreguem no stop e de seguida no andar para onde pretendem ir, mas não se aflijam que é normal ele ir ate ao último andar e voltar. Se não resultar sentem-se.

Bem Haja


Texto: Manuel Valente

Foto*: "Nada"

*(nota do autor) Era minha intenção ilustrar este texto com uma imagem do "nada" mas como não sabia qual a cor do conceito em questão optei pelo mais simples, não pôr nada. Ops! cometi o erro que critiquei em cima... oh... que se lixe!

Relembrando Génios

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão -- e nada mais!


Antero de Quental

O Pasto que não precisa de cercas, Liberdade Construtiva

Caros leitores, como já devem ter reparado a stoned sheep está diferente, isto porque o nosso intuito é fazer com que vós, fiéis pastores de rebanhos tresloucados aprecieis cada vez mais o nosso trabalho. Neste sentido chegou a hora de vos apresentar o novo membro do nosso verdejante pasto. Manuel Valente, nome inconfundível do Star System internacional, chega até nós, representando um enorme acréscimo às nossas perspectivas visionárias. Foi um casting em que recebemos gente dos mais variados quadrantes sociais e artísticos, mas no fim apenas Manuel Valente se mostrou à altura do desafio, contando 13 milhões de carneirinhos antes de cair num sono profundo.

Bem Vindo Manuel Valente

domingo, 5 de abril de 2009

Avião de Fogo, uma Dissertação sobre o Tempo


Sentado numa poltrona em Marte, olhando por uma janela suspensa no vazio, por onde só eu podia olhar, mirava o universo. Objectos físicos não via nenhum, mas sentia o coração palpitar. Que importava o resto? Estava vivo…

Com areia vermelha fiz um avião de papel, o meu avião de fogo. Olhei-o com uma atenção mestiça de orgulho e saudade antecedente e atirei-o pela janela. Vi-o a afastar-se e lembrei-me dos dias em que atirava pedras no rio, de como era fantástico ver o seu ricochetear. Eram segundos de felicidade extrema que contrastavam com o instante em que a pedra se afundava e se misturava com tantas outras.

Não sabia se iria reaver o meu avião de fogo, mas sei que ele se lembraria de mim, fosse qual fosse o seu destino. Imaginei o meu avião perfurando o sol de cicatrizes de intemporalidade infinita, e isso fez-me antever um universo muito melhor. O velho sábio precisou de encontrar rivais à sua altura para aperfeiçoar a sua técnica….

E lembrei-me novamente das pedras que atirei ao rio…Uma delas foi suficiente para mover a maior das rochas que empatava a corrente.

Mais tarde, o meu avião de fogo foi pioneiro para a criação de aviões de Ar, de água, de ouro…Todos penetrariam o sol, todos fortaleceriam a velha estrela. Dia após dia o universo tornou-se mais claro.

Recordei pela terceira vez as tardes no rio, movendo rochas. Não era apenas eu, éramos muitos fazendo o mesmo, Cada qual no seu rio. E os oceanos encheram…

E foi então que o meu avião de fogo desceu dos Céus a grande velocidade na direcção de um dos grandes oceanos…Caiu, Originou um enorme Tsunami que matou milhões de pessoas, “Oops, Um pequeno erro de cálculo” pensei…

Milhões de outros aviões caíram até destruir toda a terra, todas as pessoas do planeta desapareceram, e eu fiquei sem puder pedir desculpa a um que fosse…

Adormeci, sem pensar no efeito catastrófico que o meu avião de fogo tinha causado. Nessa noite sonhei que tirava todas as pedras dos rios.

Esperam que fale sobre o tempo? Hmmm, o avião de fogo é a minha representação do tempo, do tempo que vós passais a ler o que escrevo, do tempo em que eu com todo o gosto escrevo para vós. Um grande Obrigado a todos os que partilham o nosso tempo, e especialmente àqueles que o conjugam com meu espaço, “preciso-vos.”

E o avião de fogo não caiu, Sabe o Diabo por onde ele voa.



Texto: Carlos Rodrigues

Foto: Carlos Rodrigues