sexta-feira, 12 de junho de 2009

Crítica "Doubt"


Doubt baseia-se numa peça do dramaturgo john Patrick Shanley, que lhe valeu o prémio Pulitzer. Ele próprio dirige a adaptação ao cinema da sua obra. O enredo desenrola-se num colégio católico, corre o ano de 1964, um ano depois da morte de J.F. Kennedy. O Padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) tenta acabar com os velhos costumes da instituição, contudo conta com a oposição da Irmã Aloysius (Meryl Streep), de valores severamente marcados. O conflicto agrava-se quando a Irmã James (Amy Adams) conta à irmã Aloysius sobre o comportamento suspeito do Padre Flynn. A partir daí a a irmã Aloysius desnvolve uma busca de provas para comprovar as suas suspeitas sobre a aproximação excessiva do padre a um miúdo negro recém-chegado ao colégio. O enredo começa algo lento, com o objectivo de mostrar ao espectador as diferenças comportamentais das duas personagens centrais, mas depressa nos apercebemos que nenhuma das cenas que vimos nos aparece por acaso, num jogo de simbologias e crenças, que por vezes mais do que mostrar, tem um objectivo claramente crítico sobre a instituição. A intriga é muito bem conseguida, carregada de cenas cativantes em termos emocionais. Meryl Streep tem um papel irrepreensível, começando com uma atitude fria até á explosão emocional que ocorre no final da obra. Philip Seymour Hoffman é a escolha certa para o papel de padre, tanto em termos físicos, como em termos cognitivos, apresentando uma personalidade serena e humana, típica da profissão que representa. O argumento é muito rico e é capaz de estabelecer mudanças de opinião diferentes em cada espectador, e os diálogos apresentam uma carga emotiva muito elevada. As personagens secundárias como Amy Adams e Viola Davis representam papéis preponderantes, com desempenhos de luxo, em que funcionam como expoentes de equilíbrio numa história que parece até meio ter apenas dois extremos de opinião. O filme falha quando deixa o espectador à espera de um final mais conclusivo, contudo o confronto final entre as duas personagens finais deixa o espectador com alguns (poucos) indicativos de como seria o desenlace final. Um bom elenco, com representações poderosas e inesquecíveis, uma fotografia de estilo épico e uma banda sonora melodiosa, não deixam esquecer um final para o qual o director parecia prometer mais. Contudo não deixa de ser um bom filme de relações humanas, uma obra imperdível para o espectador que aprecia um drama polémico.

4/5

Texto: Carlos Rodrigues

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