sexta-feira, 12 de junho de 2009

Felisberto ao luar

Parte I

Chegou o calor. Pensamentos de alegria percorriam as veias de Felisberto. Não havia nada que ele tanto apreciasse como a brisa que soprava vinda de parte incerta. Lá de longe chegava o som de um bailarico, e Felisberto, como por instinto abanava a cabeça num gesto de satisfação tão gracioso que o guiava através de um olhar penetrante, obsessivo talvez, acompanhando as estrelas. E deitado sobre o chão, ladeado duma árvore velha, de nariz empinado, olhar esticado e sorriso espalmado, não precisava de mais nada, senão de contemplar o brilho da lua que o cegou de Verão.

Parte II

A respiração acelerada de Felisberto formou ondas no seu sangue onde os glóbulos surfavam num mar bravo e quente. Era engraçado constatar como vermelhos e brancos coexistiam em harmonia sem saber para onde iam, sem esquecer porque ali estavam. Só a Maré baixa os faria descansar…

Parte III

Felisberto já havia adormecido. A lua olhava-o fixamente porque sabia que ele tinha medo do escuro. Todas as noites a lua era presença na presença de Felisberto. Passaram algumas horas e a lua acordou o sol “São horas de levantar” disse. E o sol ainda meio adormecido levantou-se por detrás dum vale e iluminou o rosto sonhador de Felisberto. “Acabou o meu turno” disse a lua. E o sol sorriu e despertou Felisberto. O rapaz espreguiçou-se, os surfistas já enfrentavam ondas de sangue, o sol raiava, a lua dormia…Era Verão.


Texto: Carlos Rodrigues

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