Sentado numa poltrona em Marte, olhando por uma janela suspensa no vazio, por onde só eu podia olhar, mirava o universo. Objectos físicos não via nenhum, mas sentia o coração palpitar. Que importava o resto? Estava vivo…
Com areia vermelha fiz um avião de papel, o meu avião de fogo. Olhei-o com uma atenção mestiça de orgulho e saudade antecedente e atirei-o pela janela. Vi-o a afastar-se e lembrei-me dos dias em que atirava pedras no rio, de como era fantástico ver o seu ricochetear. Eram segundos de felicidade extrema que contrastavam com o instante em que a pedra se afundava e se misturava com tantas outras.
Não sabia se iria reaver o meu avião de fogo, mas sei que ele se lembraria de mim, fosse qual fosse o seu destino. Imaginei o meu avião perfurando o sol de cicatrizes de intemporalidade infinita, e isso fez-me antever um universo muito melhor. O velho sábio precisou de encontrar rivais à sua altura para aperfeiçoar a sua técnica….
E lembrei-me novamente das pedras que atirei ao rio…Uma delas foi suficiente para mover a maior das rochas que empatava a corrente.
Mais tarde, o meu avião de fogo foi pioneiro para a criação de aviões de Ar, de água, de ouro…Todos penetrariam o sol, todos fortaleceriam a velha estrela. Dia após dia o universo tornou-se mais claro.
Recordei pela terceira vez as tardes no rio, movendo rochas. Não era apenas eu, éramos muitos fazendo o mesmo, Cada qual no seu rio. E os oceanos encheram…
E foi então que o meu avião de fogo desceu dos Céus a grande velocidade na direcção de um dos grandes oceanos…Caiu, Originou um enorme Tsunami que matou milhões de pessoas, “Oops, Um pequeno erro de cálculo” pensei…
Milhões de outros aviões caíram até destruir toda a terra, todas as pessoas do planeta desapareceram, e eu fiquei sem puder pedir desculpa a um que fosse…
Adormeci, sem pensar no efeito catastrófico que o meu avião de fogo tinha causado. Nessa noite sonhei que tirava todas as pedras dos rios.
Esperam que fale sobre o tempo? Hmmm, o avião de fogo é a minha representação do tempo, do tempo que vós passais a ler o que escrevo, do tempo em que eu com todo o gosto escrevo para vós. Um grande Obrigado a todos os que partilham o nosso tempo, e especialmente àqueles que o conjugam com meu espaço, “preciso-vos.”
E o avião de fogo não caiu, Sabe o Diabo por onde ele voa.
Texto: Carlos Rodrigues
Foto: Carlos Rodrigues
3 comentários:
um obrigado também a ti, que escreves estes textos cheios de simbolismos que nos fazem exercitar a massa cinzenta do nosso cerebro, sempre sobre assuntos que nao lembram o Diabo mas que, após reflectir um bom bocado, nos remetem para a essência da nossa própria existência. Bem haja...
já agora... tens cenas? =D
tójó bates bem? LOOOL xD
ahah foi exactamente por nao bater lá muito bem que fui o unico que preenchia os vossos pre-requesitos entre os vários milhares de candidatos no maior casting desde os ídolos. -)
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