Era Velho e Cego. Quando comentou de forma destemida que ia escalar aquela montanha, toda a gente o tentou impedir argumentando que era um feito impossível. Falaciosos conselhos que não o impediram de caminhar naquela direcção...
O suor que lhe percorria o rosto dava-lhe mais força para continuar. Nas raras vezes em que o cansaço vencia o seu corpo, ele sentava-se nalguma rocha e acariciava a sua forma. O seu rosto dirigia-se ao céu, não sabia a sua cor mas via-o como ninguém. A brisa que lhe era enviada rasgou-lhe o rosto de rugas durante toda a vida e ele sempre soube agradecer isso.
Enquanto caminhava sentia cada pedra que calcava. Isso acentuava-lhe a dor nos pés mas ao mesmo tempo fazia com que ele tomasse conta da fraqueza das pedras e da sua superioridade sobre elas.
Ouvia os sons da aldeia cada vez mais distantes. Era estranho ouvir a buzina do padeiro e não cheirar o pão matinal. Em vez disso sentia o perfume eterno e envolvente dos pinheiros.
Continuou a subir até sentir que tinha chegado ao cume. Ergueu-se sobre o horizonte de braços abertos e "viu" o mundo como nunca o tinha "visto" antes.
Numa voz rouca e cansada, mas jovem como jamais havia soado, gritou do cimo da montanha:
- Ganho uma vida em cada minuto
O som propagou-se e ecoou num colossal raio de espaços e esperanças. O surdo ouviu, o mudo murmurou o que acabara de ouvir e o coxo perseguiu a origem das palavras até encontrar o velho homem.
O suor que lhe percorria o rosto dava-lhe mais força para continuar. Nas raras vezes em que o cansaço vencia o seu corpo, ele sentava-se nalguma rocha e acariciava a sua forma. O seu rosto dirigia-se ao céu, não sabia a sua cor mas via-o como ninguém. A brisa que lhe era enviada rasgou-lhe o rosto de rugas durante toda a vida e ele sempre soube agradecer isso.
Enquanto caminhava sentia cada pedra que calcava. Isso acentuava-lhe a dor nos pés mas ao mesmo tempo fazia com que ele tomasse conta da fraqueza das pedras e da sua superioridade sobre elas.
Ouvia os sons da aldeia cada vez mais distantes. Era estranho ouvir a buzina do padeiro e não cheirar o pão matinal. Em vez disso sentia o perfume eterno e envolvente dos pinheiros.
Continuou a subir até sentir que tinha chegado ao cume. Ergueu-se sobre o horizonte de braços abertos e "viu" o mundo como nunca o tinha "visto" antes.
Numa voz rouca e cansada, mas jovem como jamais havia soado, gritou do cimo da montanha:
- Ganho uma vida em cada minuto
O som propagou-se e ecoou num colossal raio de espaços e esperanças. O surdo ouviu, o mudo murmurou o que acabara de ouvir e o coxo perseguiu a origem das palavras até encontrar o velho homem.
Texto: Carlos Rodrigues