sábado, 12 de julho de 2008

Bloody Spaghetti

Estacionaram ali perto os seus carros. Don Paco chegara no seu Fleetwood Cadillac, enquanto Morello conduzira até ali o seu modesto Ford T. Tinham combinado o acerto final de um acordo para a 1hora da manhã, perto de um motel da periferia.
Don Paco, anos de obesidade e pequenez à frente de uma família siciliana, vestia com requinte e mestria, calça vincada, camisa branca, gravata encarnada, gabardine e casaco longos em tons de castanho-escuro. Nascera em Palermo, Itália, contudo emigrara para os EUA com os seus pais em busca do sonho americano. Alguns anos mais tarde encontrou ambos mortos na mesa onde habitualmente tomava o pequeno-almoço. Os dois tiros de Shotgun ensanguentaram a tigela que costumava encher de leite. Não chorou, jamais na sua vida. Nunca pensou em vingança, sempre apreciara matar sem motivo. Pegou na boina e na sacola, saiu para a rua e foi pedir esmola para o mercado. Algum tempo depois cometeu alguns crimes de bairro, depois vagueou pela cidade de Chicago à procura de oportunidades, tornou-se conhecido, temido e servido por muitos. “A tua honra é o que te faz ver”, foi o conselho dado por um Don para quem trabalhara no tráfico de narcóticos. A sua última visão perfeita foi a de uma faca afiada que lhe arrancou um olho. Desvalorizou o que sucedera e tornou-se naquilo que sempre sonhara, “Um verdadeiro Mafioso”. Construiu matrimónio com Bella, Mulher italiana de grandes encantos.
Morello era alto, vestia camisa e calças simples, era um simples Delivery Boy de uma família que dominava o lado oposto da cidade. Naquela noite nada mais queria do que receber o pagamento por um crime que havia cometido. Manipulável, rude, sem orgulho e inseguro, eis as suas maiores virtudes. Resumindo, era um bastardo qualquer. Tinha o desprezível vício de remexer um palito entre os dentes.
Vincenzo adorava o cheiro das balas disparadas e os movimentos de corpos à beira da morte. Passeava elegância e era dono de uns diabólicos olhos claros. Trabalhava para o seu Godfather (Don Paco) há largos anos. Naquele momento certificava-se que a sua Colt 1911 estava carregada e preparava-se para fazer jorrar sangue. Vincenzo não tinha escrúpulos, se lhe ordenassem que matasse um politico, ele mataria todos os elementos de um congresso. Contudo, para essa noite as ordens eram claras: Don Paco entregaria a mala negra com 1000 Dólares a Morello, e nesse momento Vincenzo iria satisfazer a sua vontade louca de matar.
Propagaram-se pelas ruas os passos de Don Paco e Morello numa noite fria e vazia. Cumprimentaram-se e trocaram algumas palavras. Don Paco acendeu um luxuoso charuto cubano. Morello não conseguia desviar o olhar da mala negra, o som do charuto a queimar incendiava as suas veias, pingas de suor escorriam-lhe apesar da baixa temperatura atmosférica. O palito que sobressaia nos lábios nunca se havia revirado tanto. Don Paco, frio, mantinha o tom de voz forte e seguro.
Alguns minutos passaram até que Don Paco entregou a mala negra a Morello. Ouviu-se um disparo vindo detrás de Morello.
Morello caiu na direcção do prestigiado chefe de família e com o palito que revolteava entre os dentes cegou-o por completo.
Morello morreu sem glória, Don Paco perdeu a pouca honra que lhe restava e jamais voltou a ver dinheiro. Vincenzo limpou a arma, pegou na mala, e com o dinheiro viajou para New York. Vincenzo tirava o chapéu e ajoelhava-se cada vez que entrava numa igreja...


Texto: Carlos Rodrigues

2 comentários:

Anónimo disse...

adorei pá!
Uma boa história de mafiosos mesmo com uns toques à carlos lá pelo meio! lol
fiquei foi com uma estranha vontade de sair daqui a disparar tiros para todo o lado :S

Menina Ochoa disse...

só faltava aquela musiquinha do "Padrinho" e eu entrava mesmo pela história a dentro a ver os pums pums das armas da máfia! hehe
Adorei :D