sábado, 10 de maio de 2008

I Get Around


“My buddies and me are getting real well known Yeah, the bad guys know us and they leave us alone...”
Brian, Eddy e Frank repetiam cada palavra cantada por Mike Love. Era apenas mais um dia de Verão californiano, mas eles mais do que ninguém encaravam-no como se fosse o último. Ansiavam pelo momento em que chegariam à praia. Até lá falavam das raparigas que esperavam conhecer, Riam descontrolados e tentavam desconcertar Frank enquanto este conduzia.
Deixaram o carro no cimo de uma falésia e dali ficaram a observar a praia durante largos segundos. Tal como acontecia todos os dias, milhares de pessoas pisavam a areia, ouviam-se enormes gargalhadas, o tac-toc das raquetes e a fúria profunda das ondas que rebentavam.
De olhos regalados os três olhavam as raparigas douradas, de corpos semi-desnudos num horizonte de sonhos e acordes de guitarra. Embalados pela serenata do Verão desceram a ravina correndo desalmadamente.
Nenhum deles gostava de permanecer estático numa toalha. Apreciavam mais o contraste entre o fogo da areia e a frescura pura da água do mar. Passaram por uma cabana feita de madeira de onde levaram pranchas de surf. Com elas debaixo dos braços como se de relíquias se tratassem, correram na direcção das ondas monstruosas e transformaram-nas em estradas de paixões amestradas.
Foi com um enorme abraço de pingas transparentes que os três comemoraram a sua vitória sobre o imenso oceano.
O pôr-do-sol foi o cenário de fundo para um jogo de Volleyball, com mergulhos na areia e impulsos em Slow Motion, de tempos parados e preocupações esquecidas. Uma bola perdida parou em frente a três raparigas que cochichavam enquanto bebiam Coca Cola num pequeno bar de praia. Brian baixou-se para apanhar a bola e sorriu-lhes de baixo para cima.
A noite passou-se nas dunas com seis adolescentes, em torno de uma fogueira, bebendo cerveja e olhando as estrelas. Cada corda de viola embalou o mar e este dormiu feliz.

Texto: Carlos Rodrigues
Foto: Carlos Rodrigues

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Phantom


Não está lá mas eu vi-o...falou-me sobre o futuro. Tudo aquilo que dizia não fazia sentido, até dizer que o espaço e o tempo eram reais. Por momentos nao me senti ali, era outra pessoa que ouvia aqueles ecos. Parecia que o meu subconsciente se tinha deslocado do meu corpo. Talvez fantasia ou realidade mas disse-me aquilo que não queria ouvir. Que um dia tudo terminaria. Só tinha que tomar decisões e atitudes que me tornassem imortal no tempo e não no espaço, porque até um simples sorriso pode fazer mudanças radicais. É como o bater das asas de uma borboleta, pode provocar grandes danos.
Tudo aquilo que poderia fazer afectaria aqueles de quem mais gostava, mas sobretudo àqueles que nem imaginava que existiam. Então explicou-me que os sorrisos, as lágrimas, as gargalhadas, os gritos de alegria e tristeza, os saltos, a dança, os abraços, têm que ser partilhados até com o ser mais distante. Ensinou-me que até à pessoa que não queremos que entre na nossa vida por vezes merece um sorriso nosso. "Sorri para o mundo, para o Céu, para os bichos, para as pedras da calçada, para desconhecidos, até para aqueles de quem gostas menos."
Assim provocaria não um dano, mas daria um segundo diferente na vida de alguém.
Sorriu e desapareceu.
Foto: Cláudia Silva
Texto: Cláudia Silva