Deambulavam, por aquele sonho, os seus pés. Não se sentia bem mas mal também não, e nada fazia prever o que estaria para acontecer. Raízes amordaçaram as suas pernas, num imediato supremo sentiu uma dor incontrolável e atirou um grito que cortou o passeio em paralelos simétricos. Levou as mãos à cara e afundou-se num remoinho de quadrados movediços. Depois?! Bem depois caiu numa sala branca onde nem a sua sombra existia. Ouvia a respiração de outro que afinal era a sua, num raio de acção tão grande que era impossível de medir. Escorregou pelo suor abaixo e as veias do seu pescoço formaram ramos de árvores velhas. Quis falar, mas não conseguiu...Quis mexer-se, não conseguiu…Sentia-se amarrado num cubo de Rubik sem cores. Foi então que ele ouviu várias respirações ofegantes, que afinal eram dele sem que ele se apercebesse. E então observou alguém que se aproximava. Era ele, um sósia quem sabe “pensou”, contudo foi a última coisa que pensou. Sentiu as suas capacidades cognitivas caírem agarradas a um parapente que se despenhou no vazio. Esticou os braços no único movimento que conseguiu soltar. Tocou-lhe, toucou-se. Era metal frio. Chorou alto e sentiu-se perdido. Por cada lágrima derramada um novo “ele” nasceu. Eram todos iguais, e ele deixou de saber quem era e passou a ser apenas mais uma pedra numa calçada de tantas outras. Não se sentia. Berrou tão alto, com tanto sofrer que a sua cabeça estoirou, e os seus miolos formaram um fogo de artificio que caiu num vasto mar vermelho.
Texto: Carlos Rodrigues