Portas são poços horizontais onde correm rios de foz indefinida. São lupas de horizontes, auto-estradas de ventos cortantes, umas enganam, outras nos desenganam. Um portal de cristal nem sempre é mais confiável do que a entrada duma gruta. Num portal de cristal podemos encontrar ouro que se desfaz em cinza, e numa gruta um morcego de ouro. Aprecio casas com muitas portas, mesmo que algumas delas permaneçam fechadas. Muitas portas abertas originam correntes de ar, e os homens não sabem falar com o vento. Ocorre-me citar Bob Dylan numa das suas muitas “divagações”: “The answer, my friend, is blowing in the Wind”. A solução do enigma das nossas vidas passa pela velha questão do meio termo, entre a humildade e a ambição, entre uma corrente tempestuosa e uma brisa, entre o saber esperar e a curiosidade incontrolada. A resposta por detrás de cada porta é aquela que nós, consciente ou inconscientemente construímos.
Texto: Carlos Rodrigues
Foto: Carlos Rodrigues